09 de outubro de 2024
03 de abril de 2023
Um setor maduro e em crescimento
Inflação alta, falta de medicamentos, ameaça de novas ondas de Covid-19. Três grandes desafios que impactaram o varejo farmacêutico em 2022. Buscar novas formas de atender o cliente, investir no digital e no atendimento cada vez mais personalizado foram ações que contribuíram para que o setor superasse as crises, consolidado e com resultados positivos e promissores.
Nos três primeiros trimestres de 2022, o grande varejo farmacêutico manteve crescimento na casa dos dois dígitos.
As 26 empresas que integram a Abrafarma faturaram R$ 58,85 bilhões no período, o que representa uma evolução de 17,4% sobre o intervalo de janeiro a setembro do ano anterior.
Do grande varejo, às redes associativistas e aos distribuidores passando por setores como o de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) e de Higiene & Beleza (H&B). os cenários são animadores.
Além disso, ainda há muito espaço para o fortalecimento da profissão farmacêutica, peça fundamental como agente de saúde e para o negócio em si.
A FORÇA DO ASSOCIATIVISMO
A Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) cresce sistematicamente, desde os últimos 11 anos, 50% acima da média de mercado, segundo afirma o presidente da entidade, Edison Tamascia.
Ele afirma que o setor ainda precisa entender que o formato e a proposta de trabalho deram certo, mas que é preciso continuar olhando para o futuro, tentando entender a dinâmica e se adequar às novas demandas. “Acreditamos que, em 2023, cresceremos acima de 50% do mercado”, projeta Tamascia.
Segundo ele, uma importante conquista de 2022 foi o lançamento do e-delivery, um sistema de entrega digitalizado. “Devemos crescer próximo a 20% neste ano, o que é um número muito bom.
Também vimos nosso número de redes crescer e trouxemos três novas redes”, revela, acrescentando que para 2023, o maior desafio é manter toda a estrutura que já existe e criar robustez para que o setor possa continuar a prosperar.
Tamascia afirma estar extremamente otimista em relação ao novo governo federal. “Já tivemos oito anos de governo Lula durante os quais, para o nosso negócio farma, foi excepcional. Tivemos a inserção, por exemplo, de mais de 38 milhões de pessoas da classe D para a classe C, possibilitando aumento do consumo; e foi inserido, em nosso negócio, o Farmácia Popular”, diz.
Assim como a Febrafar, a Associação Brasileira das Redes Associativistas de Farmácias e Drogarias (Abrafad) também vê o setor com olhos otimistas. O diretor executivo da entidade, Nilson Ribeiro, conta que, até setembro de 2022, o mercado havia crescido 15,3% em valores e 8,7% em unidades, ou seja, resultados bastante expressivos por se tratar de movimento após a pandemia, conforme dados da IQVIA.
“As grandes redes recuperaram bastante o mercado perdido, enquanto as Redes Associativas continuaram crescendo quatro pontos percentuais acima do mercado. Quem perdeu neste período foram as médias redes e as farmácias independentes. O ano poderia ter sido ainda melhor se não estivéssemos enfrentando um grande volume de faltas de produtos”, avalia Ribeiro.
Para ele, entre os desafios para 2023, está aumentar a participação nas vendas de produtos para Higiene, Beleza e Persona Care e explorar melhor a parte de Hub de Saúde e Bem-estar, que vem sendo proporcionado pelos grandes players.
“Essas ações nos permitirão trabalhar para fortalecer a imagem do associativismo junto ao consumidor, como a primeira porta de cuidados para a saúde”, ressalta.
Ribeiro afirma que a Abrafad projeta continuar crescendo 4% acima do mercado farmacêutico.
Em relação ao novo governo, ele acredita na redução do desemprego ou estabilização dos postos de trabalho, com melhoria de ganho do salário-mínimo, além da manutenção do Bolsa Família, que são fatores que impactam positivamente o varejo.
“Temos, ainda, a garantia de que não faltará verba para o Programa Farmácia Popular”, conclui.
RESILIÊNCIA DA DISTRIBUIÇÃO
O ano de 2022 foi bem difícil para a distribuição, já que o segmento esteve pressionado em várias dimensões. A falta sistemática de produtos impactou no volume de vendas, a inflação trouxe uma pressão de custo, as dificuldades da indústria comprimiram ainda mais as margens já apertadas, o aumento de juros tornou ainda mais caro o ciclo de caixa, enfim, uma combinação perversa para a sustentação de qualquer negócio
“Em contrapartida, esse cenário mostrou a resiliência da distribuição e do setor de saúde. A maioria dos associados da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan) foi capaz, no início da pandemia, de se adaptar logisticamente e capturar as diversas oportunidades que surgiram.
Ao mesmo tempo, muitos também aproveitaram para fortalecer a gestão, o que foi muito importante para o enfretamento das dificuldades do ano de 2022”, conta o diretor executivo da entidade, Ivan Coimbra.
Segundo ele, um sinal importante é que não houve uma retratação de demanda, mas, sim, de oferta de produtos pela crise da cadeia logística, o que mostra que, resolvida esta questão, o mercado volta a crescer na trajetória histórica.
Para 2023, o executivo afirma que existem pelo menos duas boas perspectivas de cenários positivos: a primeira é a regularização da cadeia de suprimentos, o que ajudaria a recompor a ponta da oferta de produtos; a outra é uma perspectiva de uma inflação mais controlada ajudando a mitigar o impacto de custos.
“Certamente, o setor deve crescer em função das premissas tradicionais de crescimento e envelhecimento da população, potencial de alavancagem em função de consumidores ainda ser acesso a cuidados de saúde. Se as condições da economia e da cadeia de suprimentos forem restabelecidas, o crescimento vira forte”, diz.
Coimbra comenta que o setor espera uma visão mais concreta do novo governo federal, mas já vê sinais positivos.
“A sinalização do resgate e do incremento do Farmácia Popular com novos produtos, o incentivo à investimento na indústria nacional para produção de Insumos Farmacêuticos Ativos (IAs) e estímulos a novos produtos nacionais podem ser alavancadores importantes”, comenta.
O CENÁRIO DAS REDES
O grande varejo farmacêutico manteve o crescimento na casa de dois dígitos nos três primeiros trimestres de 2022.
As 26 empresas que integram a Abrafarma obtiveram faturamento de R$ 58,85 bilhões no período, uma evolução de 17,4% sobre o intervalo de janeiro a setembro de 2021.
Além disso, o volume de clientes que passaram pelas lojas também avançou na mesma proporção, subindo de 697 mil para 800 milhões.
“Estamos falando de uma média diária de 2,9 milhões de atendimentos. Os números mostram que as farmácias sequem ganhando relevância como centros de atenção primária à saúde, ressalta o CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto.
Para ele, as prioridades do setor para 2023 representam uma espécie de continuidade desses anos de pandemia, em que o mercado se viu desafiado a modernizar, rapidamente, suas operações com foco no digital.
“A ampliação do modelo de serviços farmacêuticos, com foco nos testes laboratoriais e no atendimento via telessaúde e outra bandeira que a Abrafarma buscará encampar”, comenta, reforçando que o setor mantém sua trajetória de crescimento, independentemente de fatores políticos.
A Abrafarma ainda destaca que a operação de e-commerce continua com viés de crescimento no canal farma, na contra. mão das vendas on-line do varejo em geral. Da receita total nos primeiros nove meses de 2022, 69% proveio da venda de medicamentos – R$ 40,70 bilhões, o que representou um incremento de 18,7% sobre o mesmo intervalo de 2021.
Os MIPs movimentaram R$ 11,86 bilhões e tiveram uma alta de 20,8%. A receita de R$ 2,71 bilhões representou um cresci.
mento de 36,3%.
“O setor vem trabalhando com sucesso a combinação entre a agilidade digital e a experiência na loja física, por meio de modalidades como o Clique e Retire O consumidor tem acesso a uma jornada de compra e saúde muito mais fluida na farmácia”, avalia Barreto.
Já os não medicamentos, que englobam artigos de beleza. higiene pessoal, perfumaria e conveniência, registraram um faturamento de R$ 18,15 bilhões – aumento de 14,7%
HPC SEGUE EM DESTAQUE
O setor brasileiro de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPC) apresentou um crescimento de 8,6% na corrente de comércio internacional no consolidado de janeiro a outubro de 2022, em relação ao ano anterior.
De acordo com análise da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos(Abihpec), o percentual representa a cifra de US$ 1.26 bilhão, e um saldo da balança comercial do setor, superavitário em USS 37 milhões, revertendo o saldo deficitário registrado no mesmo período de 2021 (-USS 1.9 milhão).
Para o presidente-executivo da entidade, João Carlos Basilio, o setor tem mostrado “resiliência” diante dos impactos internos e externos que, por vezes, reduzem a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Apesar dos desafios políticos e econômicos atuais seguimos com um bom volume de exportação e aproveitando as boas oportunidades ao longo dos cinco bimestres de 2022* comenta o executivo.
“No entanto, se faz necessário desenvolver uma política voltada para o comércio exterior, a fim de mitigar assimetrias que reduzem a capacidade de competição do produto nacional”, ressaltou.
Ainda segundo a Abitpec, os produtos multifuncionais tem despertado cada vez mais a atenção dos consumidores uma vez que entregam aversos benefícios em um único produto
– como o protetor solar com cor. isso mostra que o consumi dor busca praticidade no seu dia a dia, pois ao agregar várias funções em uma única fórmula, esses produtos aumentam a conveniência e reduzem o tempo dedicado a aplicação.
“Esse interesse do consumidor por produtos multifuncionais traz novos desafios de inovação aos formuladores do nosso setor. A busca por formulações multifuncionais vem crescendo e já se mostra como uma tendência em alta nas publicações científicas e tecnológicas”, afirma Basílio.
MUITOS DESAFIOS PARA A INDÚSTRIA
Dois mil e vinte e dois também foi um ano difícil para a indústria instalada no País. “Algumas situações, como o fornecimento de IFAs, fugiram ao controle da indústria farmacêutica nacional e internacional.
A antecipação do ciclo da gripe influenza também desorganizou a produção e os estoques, provocando problemas pontuais de produção e abastecimento”, comenta o presidente -executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). Nelson Mussolini.
Ele conta que as vendas da indústria para o varejo farmacêutico cresceram cerca de 16% em 2022, mas com sérios problemas de rentabilidade, porque os IFAs tiveram uma escalada de preços durante o auge da pandemia e não voltaram aos níveis anteriores.
“A esperada queda dos custos de frete, decorrente da redução dos casos de Covid-19, também não aconteceu por causa da guerra na Ucrânia. Note-se que o conflito na Ucrânia não interferiu no fornecimento de IFAs, mas afetou muito o custo do petróleo e, consequentemente, o custo dos fretes”, comenta.
Mussolini afirma que o Sindusfarma projeta para 2023 mais um ano de crescimento do mercado farmacêutico, na casa dos dois dígitos.
“Esse desempenho deve ser impulsionado pela contínua expansão do segmento de medicamentos genéricos, que já responde por 40% das vendas totais em unidades; e pelo lançamento de medicamentos inovadores em classes, como oncologia e Sistema Nervoso Central (SNC), entre outras”, afirma.
Ele diz que a indústria farmacêutica, assim como o setor de saúde em geral, também tem expectativas altas do novo governo em relação ao setor da saúde.
*Precisamos de previsibilidade e segurança jurídica para poder entregar à população brasileira os mais modernos e melhores produtos.
Diferentemente do governo anterior, o novo mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tende a ser um governo social, mais preocupado com a saúde e a ampliação do acesso da população aos medicamentos.
Sendo assim, tudo indica que a Assistência Farmacêutica deve melhorar, bem como o programa Aqui Tem Farmácia Popular e o Programa Nacional de Imunizações, abrindo boas perspectivas para a indústria farmacêutica”, afirma.
VALORIZAÇÃO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA
O mercado de trabalho para os farmacêuticos é bastante promissor no Brasil, segundo o secretário-geral do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Gustavo Pires.
Ele conta que os farmacêuticos podem atuar nas mais de 135 áreas regulamentadas pela entidade. Isso significa que este profissional pode ser desde responsável técnico por uma farmácia/drogaria, e até trabalhar com estética, ozonioterapia, etc.
“Hoje, temos em torno de 300 mil profissionais inscritos em todo território nacional. Os desafios estão vinculados a um processo de evolução da profissão, baseado em avanços tecnológicos e os profissionais devem ter conhecimento e estarem bem-preparados para trabalhar com isso”, diz Pires.
Ele diz que o setor que mais emprega são as farmácias e drogarias. Mas há diversas áreas em que o farmacêutico pode atuar, passando por oportunidades no setor público, pelas indústrias que cada vez mais buscam profissionais antena dos com os avanços tecnológicos empregados neste campo e na área de diagnóstico nos laboratórios de análises clínicas.
“Na área da saúde como um todo, qualquer profissional tem de ter atualização constante, pois as novas descobertas, aliadas aos diversos avanços tecnológicos, avançam cada vez mais e mudam com muita rapidez. Portanto, estar bem-preparado e se atualizar constantemente é a melhor dica para quem quer ter um bom posicionamento profissional”, afirma.
A IMPORTÂNCIA DOS MIPS
De uma forma geral, o ano de 2022 foi bom para os MIPs. O segmento apresentou crescimento em faturamento acima do mercado, mostrando uma recuperação importante depois de impactos sofridos no período mais agudo da pandemia, segundo afirma o diretor de relacionamento com parceiros estratégicos da IQVIA, César Bentim.
“Há diferenças de performance entre os diversos segmentos, em que um destaque ficou para o de gripes e resfriados, que contou com uma certa sazonalidade fora de época no fim de 2021 e início de 2022.
Essa situação trouxe desafios de abastecimento que necessitaram muito trabalho por parte de laboratórios, distribuidores e farmácias, mas o resultado foi positivo, avalia Bentim, salientando que, na outra ponta, há segmentos que passaram por uma reavaliação de potencial e sustentabilidade de crescimento, como o de vitaminas. “Esta categoria viveu excelentes momentos durante a pandemia e que agora me parece necessitar de um posicionamento diferente”, analisa.
Bentim também destaca algumas tendências que devem acompanhar o setor em 2023 e a movimentação das marcas é uma delas. Para ele, os fabricantes seguirão suas estratégias de diferenciação do portfólio, trazendo lançamentos que podem ser mais ou menos diferenciados, mesmo assim buscando inovar.
Para ele, o segundo bloco de tendências é uma grande oportunidade: trabalho sinérgico entre os diversos atores do segmento – indústria, varejo e distribuição – para conseguir extrair cada vez mais desse segmento que representa nada menos do que 40% das vendas do autosserviço.
*Os varejistas que não conseguirem uma boa execução nos MIPs dificilmente conseguirão se sair bem no resultado obtido das vendas, visto a importância e o crescimento possível ali. Mas para aproveitar essa oportunidade, é preciso caprichar na gestão de categoria e, sobretudo, entender o comportamento do consumidor”, avalia.
Já em relação ao mercado, a expectativa de Bentim é que os MIPs continuem crescendo a boas taxas. Mas ele faz um alerta: é importante estar atento, principalmente, em relação à lógica da sazonalidade que pelas alterações de clima vem trazendo desafios para o setor, tornando o momento menos previsível sobre a busca desses produtos pelos consumidores, especialmente os ligados ao inverno.
Se por um lado entendemos que o mercado segue robusto em sua performance, ele requer cuidados na operação e uma necessidade de ação mais conjunta com distribuidores e farmácias junto aos laboratórios”, diz.
O novo ano também traz novas oportunidades advindas de segmento, marcas e até SKUs. “Há, antes de mais nada, que se entenda o papel dos MIPs para a farmácia e para o consumidor. Pesquisa realizada há algum tempo pela IQVIA, em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (Acessa), mostrou que os MIPs são a categoria número um em destino para as farmácias.
Assim, entendo que para capturarmos as oportunidades, precisamos entender essa realidade. Assim, passamos a buscar, incansavelmente, melhorias de execução baseadas em um contínuo entendimento dos consumidores”, comenta.
No campo dos desafios, está ainda a aproximação de todos os elos da cadeia na busca pela melhor execução.
Fonte: Portal Guia da farmácia – Anuário Farmacêutico 2023
Indústria, Distribuidoras, Redes De Farmácias E Empresas De Serviços.
Por Adriana Bruno